A mostra é baseada no livro de Ana Maria Gonçalves, que também assina a curadoria
O Museu de Arte do Rio lança a sua nova exposição principal “Um Defeito de Cor” no dia 10 de setembro. A mostra é baseada nos contextos sociais, culturais, econômicos e políticos do século XIX, abordados no livro de mesmo nome da escritora mineira Ana Maria Gonçalves. Ao todo serão 400 obras de artes entre desenhos, pinturas, vídeos, esculturas e instalações de mais de 100 artistas de localidades, como Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e até mesmo do continente africano, em sua maioria negros e negras, principalmente mulheres. A exposição tem obras inéditas de Kwaku Ananse Kintê, Kika Carvalho, Antonio Oloxedê, Goya Lopes, produzidas especialmente para homenagear o livro.
O defeito de cor era um conceito exigido de liberação racial comum no século XIX. Na época, se configurava a racialidade nas questões positivistas, como se pessoas racializadas, indígenas e negras, pudessem ter na sua constituição biológica algo que fosse um defeito, como pouca inteligência, por exemplo. Então, a exposição aborda esse trauma da investigação a partir da trajetória da protagonista do romance, a africana, Kehinde.
Ana Maria Gonçalves afirma que é enriquecedor ver as propostas e as ideias das pessoas envolvidas nos diversos processos da montagem da exposição, e entender como é importante esta experiência de construção coletiva de uma memória/história que também é coletiva.
“Espero que as histórias contadas na mostra atinjam um público não atingido pelo livro. O grande fotógrafo Januário Garcia dizia que existe uma história do negro sem o Brasil, mas que não existe uma história do Brasil sem o negro (e aqui tomo a liberdade de acrescentar os povos indígenas). Que as pessoas saiam de lá sabendo disto e coloquem em dúvida tudo que aprenderam sobre o Brasil sem que tenhamos sido ouvidos.”, conta a autora do livro Um Defeito de Cor.
Dividida em 10 núcleos, que se espelham nos 10 capítulos do livro, a mostra fala de revoltas negras, empreendedorismo, protagonismo feminino, culto aos ancestrais, África Contemporânea, entre outros temas.
“A exposição não tem uma relação direta com o livro. Não é uma história ilustrada do livro. É uma relação de interpretação. A gente interpreta o livro junto com a Ana Maria, trazendo imagens e obras a partir dos conceitos que ela aborda no livro. E não damos detalhes da narrativa.” conta Marcelo Campos, Curador-Chefe do MAR, que faz a curadoria compartilhada ao lado de Amanda Bonan e Ana Maria Gonçalves.
A exposição também vai contar com trechos lidos pela autora, Ana Maria Gonçalves e pela mãe dela, Helia Iza da Silva Gonçalves, já que o romance trata da relação entre mãe e filhos. Leda Maria Martins, pesquisadora de questões de racialidade, também pediu para participar, o que muito honra o Museu, e gravou partes do livro que serão ouvidas em uma faixa sonora nas salas da exposição.
“A exposição ajuda a humanizar a história e traz à tona temas que a gente não aprende na escola. É uma revisão historiográfica abordando lutas, contextos sociais e culturais do século XIX. A gente não aborda a narrativa ficcional e sim a pesquisa histórica feita pela autora.” ressalta Amanda Bonan, Gerente de Curadoria do MAR.
O livro, que completa 16 anos em 2022, é considerado um clássico da literatura afrofeminista brasileira e ganhou o importante prêmio literário Casa de las Américas, em 2007. A mostra “Um Defeito de Cor” vai ocupar o terceiro andar do pavilhão de exposições do MAR e substitui a exposição “Crônicas Cariocas”.
“ Defeito de Cor é uma exposição carregada de significados que dialogam com a história de superação e ancestralidade presente no território em que o MAR está inserido, a Pequena África. Seguimos engajados no processo de curadoria coletiva, trazendo a Ana Maria Gonçalves e o Ayrson Heráclito para construírem, junto com Marcelo Campos e Amanda Bonan essa exposição incrível que abriremos no próximo dia 10 de setembro” diz Raphael Callou, Diretor e Chefe da Representação da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil, instituição que faz a gestão do MAR.
Entre os artistas que participam da exposição estão Rosana Paulino, Silvana Mendes, Yêdamaria, Maria Auxiliadora, Yedda Affini e Djanira e conta com uma paisagem sonora feita por Tiganá Santana e Jaqueline Coelho. O público poderá ouvir músicas e textos que expressam os sentimentos da personagem principal do livro por todas as duas salas do pavilhão de exposição. A expografia é do artista Ayrson Heráclito junto com Aline Arroyo.
Ana Maria Gonçalves
Nasceu em 1970 em Ibiá, Minas Gerais. Publicitária por formação, se encantou pela Bahia, durante uma viagem para a Ilha de Itaparica, onde morou por cinco anos. Ali, passou a se dedicar integralmente à literatura e ao universo cultural da diáspora africana nas Américas. Em 2006, se tornou conhecida em todo o país com o lançamento de “Um Defeito de Cor”, romance que encena em primeira pessoa a trajetória de Kehinde, nascida no Benin (atual Daomé), desde o instante em que é escravizada, aos oito anos, até seu retorno à África, décadas mais tarde, como mulher livre.
O Museu de Arte do Rio
Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. “A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949.
O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um instrumento de fortalecimento do acesso à cultura, intimamente relacionado com o território, além de contribuir para a formação nas artes, tendo no Rio de Janeiro, por meio da sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Raphael Callou, diretor e chefe da representação da OEI no Brasil.
Após o início das atividades em 2021, a OEI e o Instituto Odeon celebraram parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, onde o Odeon passa a auxiliar na correalização da programação.
O Museu de Arte do Rio tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor como patrocinadora master, o Itaú como patrocinador e o Grupo Renner como apoiador, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A Escola do Olhar conta com o patrocínio da Wilson Sons e Machado Meyer Advogados via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pelo RIOgaleão e Icatu e tem a Cultura Inglesa como apoiadora Educacional. O Instituto Olga Kos patrocina os recursos de acessibilidade e a Globo e o Canal Curta são os parceiros de mídia do MAR.
O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização da Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e do Governo Federal do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o MAR tem a gestão da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e o Instituto Odeon como correalizador das atividades.
Mais informações em www.museudeartedorio.org.br
Serviço:
Um Defeito de Cor
Museu de Arte do Rio
Praça Mauá, 5 - Centro
Inauguração dia 10 de setembro
Funcionamento do MAR: das 11h às 18h (última entrada às 17h)
Entrada Gratuita
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