Número de casos é quatro vezes maior do que o registrado em 2021. Essa situação impacta diretamente na qualidade dos serviços prestados pela concessionária
Em audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que investiga as interrupções e atrasos no serviço de trem, realizada nesta segunda-feira (04/04), o presidente da SuperVia, Antônio Carlos Sanches, relatou que somente neste ano de 2022 já ocorreram 347 furtos de equipamentos, como cabos e parafusos. Esse número de casos é quase quatro vezes maior do que a empresa registrou durante todo o ano de 2021.
Sanches explicou que os furtos causam impacto direto na qualidade dos serviços prestados. “Se fala muito sobre o furto de cabos, e muitas vezes é colocado como algo menor. Mas com o furto se interrompe a comunicação entre maquinista e centro de comando. Com isso, temos que tirar trens de circulação, aumentar o intervalo e reduzir a velocidade das composições em operação. O passageiro sente na plataforma e no trem. No dia 24 de janeiro, por exemplo, tivemos 60 metros de cabo furtados, o que ocasionou o cancelamento de 41 viagens, o atraso médio de 9 minutos em 29 viagens, deixando de transportar 98.400 usuários”, contou.
O presidente da concessionária informou que duas equipes da empresa trabalham durante a madrugada para repor peças furtadas, e que a SuperVia está redirecionando parte da fiação para o subsolo e a envolvendo com concreto, de forma a dificultar os furtos. Cada quilômetro deste embutimento, segundo ele, teria o custo de R$ 340 mil. Para realizar este procedimento em toda a linha férrea, o valor seria de aproximadamente R$ 100 milhões, somente para os cabos de sinalização.
Presidente da CPI, a deputada Lucinha (PSD) criticou a qualidade do serviço ferroviário e a atuação de órgãos responsáveis por fiscalização: “Vemos matérias todos os dias sobre a precariedade do sistema de trens, e quem perde emprego e chega atrasado é o trabalhador. O que faz a Agetransp, que deve auxiliar com informações? A secretaria de Transportes não apresenta estudos sobre o furto de cabos”.
A deputada Enfermeira Rejane (PCdoB) chamou a atenção para a necessidade de atuação do poder público de forma integrada. “Existe uma grande quadrilha atuando, não estamos lidando com pessoas agindo isoladamente. Precisamos tratar o processo de forma coletiva. Toda a linha férrea tem que ser monitorada, com cuidado, já que envolve áreas dominadas pela milícia e pelo tráfico. No entanto, não vemos os órgãos públicos atuarem em conjunto”, observou a parlamentar.
Estações sem câmeras
Durante a audiência, o presidente da SuperVia informou que em 12 das 104 estações de trem não há sistema de câmeras de segurança, e que os funcionários da concessionária têm dificuldades de trabalhar nestes locais por conta da violência. Assessor técnico da Secretaria estadual de Transportes (Setrans), Álvaro Eugênio admitiu que se trata de um problema grave: “Ter estações que não estão sob controle do estado é gravíssimo. Tenho certeza de que o secretário de Transportes relata ao governador estes fatos. Trabalhamos com empenho para fazer o transporte melhor”.
O deputado Luiz Paulo (PSD) condenou a ausência de câmeras em estações. “É obrigação de todas as estações de trem ter câmeras. Considero que não é possível ter um sistema de transporte estruturado que não seja visto de forma integrada com a segurança pública. Tem que ser visto de forma sistêmica. O varejo é mais difícil de combater, difícil de investigar”, pontuou.
Comments