Empresa de meteorologia alerta para risco de enchentes e deslizamentos
Após as chuvas intensas na Bahia, que resultaram em 21 mortes e mais de 30 mil pessoas desabrigadas devido a enchentes e deslizamentos, estados do Sudeste poderão ser os próximos a sofrerem com as tempestades, já no Réveillon. Um alerta enviado pela empresa de meteorologia Metsul, nesta terça, diz que os volumes de precipitação devem ser muito altos em várias áreas do Sudeste, e o maior risco está em Minas Gerais, mas com previsões preocupantes também para São Paulo e Rio. Como mostrou O GLOBO nesta segunda, o corredor de umidade que acometeu a Bahia está vindo em direção ao Sul.
Tocantins e a Bahia enfrentam graves inundações com mais de uma centena de municípios em situação de emergência, 20 mortes, cidades inteiras debaixo d´água e centenas de milhares de pessoas afetadas por inundações. Na Bahia, é o segundo evento de graves inundações com só três semanas de intervalo entre um e outro, consequência de um segundo episódio da Zona de Convergência do Atlântico Sul que se posicionou mais ao Norte que sua orientação habitual. Uma situação de desastre por chuva que era antecipada e foi ostensivamente alertada.
O que traz preocupação agora é o cenário de chuva para o Sudeste do Brasil. O corredor de umidade responsável pelo excesso de precipitação em Tocantins e no estado baiano vai estar nos próximos sete a dez dias mais ao Sul, na área que costumeiramente atua durante o verão.
Os volumes de chuva devem ser muito altos e, inclusive, excepcionalmente elevados em várias áreas da Região Sudeste. O estado com maior risco é Minas Gerais, entretanto áreas do Rio de Janeiro e de São Paulo também podem sofrer com precipitação excessiva.
Como Minas e Rio possuem muitas cidades em regiões serranas, a Metsul alertou para a possibilidade de deslizamentos e enchentes nos próximos 10 a 15 dias. Ou seja, além da virada do ano, os primeiros dias de 2022 podem ser afetados pelas tempestades. Em uma projeção feita pela empresa, com base no modelo meteorológico alemão Icon, foi detectada tendência de chuva forte nos próximos sete dias em Minas, com acúmulo de 200mm a 300 mm de precipitação em algumas cidades. No Sudeste, a capital com maior risco é justamente Belo Horizonte, e o volume de água acumulada, juntando a sua Região Metropolitana, poderia exceder os 200 mm na próxima semana.
As projeções do Metsul apontaram também que as praias do litoral norte do Rio estarão, no réveillon, sob menos risco de tempestade em comparação com o litoral sul, a Costa Verde. Nesta terça, a cidade de São Paulo registrou chuva em todas as suas regiões. A capital entrou em "estado de atenção" para alagamentos às 12h25.
Meteorologista do Metsul, Estael Sias diz que o centro-sul de Minas e o Norte de São Paulo são as regiões mais preocupantes no momento. Mas, a região serrana do Rio, as regiões metropolitanas do Rio e Espírito Santo, além de porções de Goiás e Mato Grosso também demandam atenção.
— Os resultados das projeções são preocupantes. Diante do cenário que já temos registrado, como na Bahia e norte de Minas, já há um ambiente de vulnerabilidade. Então o risco de transtornos no Sudeste é muito alto — explicou Sias, que lembra que a situação na Bahia resultou da combinação do fenômeno da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) com um ciclone subtropical observado há cerca de duas semanas, no estado, o que acelerou o acúmulo de umidade.
Nesta segunda, o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) explicou que a tragédia baiana foi deflagrada pela ZCAS, colossal canal de umidade trazida do mar que “estaciona” sobre determinadas áreas, causando chuva intensa e inundação por dias. Essa massa de umidade irá se deslocar para o Sudeste e o Sul, o que motiva as previsões de chuvas. Ele afirmou, porém, que ainda não é possível saber se as precipitações acontecerão no mesmo nível dos registrados na Bahia.
— A ZCAS se espalhou pela Bahia, o que é totalmente fora do normal, e despejou aguaceiros numa região cerca de 1.000 quilômetros ao norte da que costuma ocorrer (o Sudeste). E esse fenômeno, que por si só já seria raro, aconteceu duas vezes no mesmo mês — disse Seluchi.
Em Volta Redonda, também há um sistema integrado que avalia a vulnerabilidade da cidade em períodos de chuva. Anualmente, entre novembro e março é comum que a região esteja em alerta máximo, o que já ocorre agora. A Defesa Civil da cidade do aço informou que mantém a mobilização do plano de contingência para o caso de um aumento extremo de chuvas. Nesse esquema de monitoramento, caminhões e outros equipamentos necessários para o transporte e uso no combate às enchentes estão à disposição da prefeitura em tempo integral. Também é mapeada a totalidade dos centros de atendimento médico e locais de acolhimento para eventuais desabrigados.
— Não posso me atentar somente ao que o sistema meteorológico oferece. Trabalho com a previsão de chuva todos os dias até março de 2022 (mesmo que não ocorra). Temos cautela responsável, é o alerta de verão — afirma Rubens Siqueira, coordenador da Defesa Civil de Volta Redonda.
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